segunda-feira, outubro 23, 2006

Porque...



Porque,
Que na solidão dos caminhos,
Só a tristeza conversa comigo?

Porque,
Quando grito um nome nos ermos de uma montanha,
O eco parece um grito desesperado de socorro?

Porque,
Quando sento na beira da praia,
A água do mar tem gosto de lágrimas?

Depois que conheci você,
Eu descobri...Porque.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Deixe aflorar toda sua Doçura...


Às vezes, fico me perguntando porque é tão difícil ser transparente... Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero, não enganar os outros. Mas ser transparente é muito mais do que isso.
É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que a gente sente... Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair às máscaras, baixar as armas, destruir os imensos e grossos muros que insistimos tanto em nos empenhar para levantar...
Ser transparente é permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche, transborde! Mas infelizmente, quase sempre, a maioria de nós decide não correr esse risco. Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia toda a fragilidade humana.
Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam do mais profundo de nosso ser... Preferimos nos perder numa busca insana por respostas imediatas a simplesmente nos entregar e admitir que não sabemos, que temos medo!
Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez mais de quem realmente somos, preferimos assim: manter uma imagem que nos dê a sensação de proteção...
E assim, vamos nos afogando mais e mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em falsos sentimentos... Não porque sejamos pessoas mentirosas, mas apenas porque nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais intenso e não-contaminado...
Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar... doçura, compaixão... a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes e choramos baixinho antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos... daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos coragem de mostrar àqueles que mais amamos!
Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor revidar, descontar, agredir, acusar, criticar e julgar do que simplesmente dizer: "você está me machucando... pode parar, por favor!". Porque aprendemos que dizer isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro. Quando, na verdade, se agíssemos com o coração, poderíamos evitar tanta dor, tanta dor...
Sugiro que deixemos explodir toda a nossa doçura! Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o nosso medo, não desejar parecer tão invencíveis...
Que consigamos não tentar controlar tanto, responder tanto, competir tanto... Que consigamos docemente viver... sentir, e principalmente amar... mas amar de verdade.



terça-feira, outubro 10, 2006

Condor.


(D.Bianchetta)




Sou meu próprio mundo,
Meu próprio Condor.
Dono dos meus vôos solitários,
Traço meus caminhos sozinho.
Não tenho amores, nem cores e nem dores,
Só tenho o mundo; alto, vasto, e silencioso.

Névoas...


( T. Glow )


Névoas


Nas horas tardias que a noite desmaia
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,

Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada — sereno, dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.

Na forma de neve — puríssima e nua —
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.

Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes, cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes, sorrindo, das nuvens no véu?

O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas,
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!

Nas nuas espáduas, dos astros dormentes
— Tão frio — não sentes o pranto filtrar?
E as asas, de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?

Ai! vem, que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!...
Os astros sem alma se cansam de olhar-te,
Nem podem amar-te, nem dizem paixão!

E as auras passavam — e as névoas tremiam
— E os gênios corriam — no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!

Imagem formosa das nuvens da Ilíria,
— Brilhante Valquíria — das brumas do Norte,
Não ouves ao menos do bardo os clamores,
Envolto em vapores — mais fria que a morte!

Oh! vem; vem, minh'alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido,
— Contar-te ao ouvido paixão delirante!...

Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias
– Nas horas tardias que a noite desmaia.

E as brisas da aurora ligeiras corriam.
No leito batiam da fada divina...
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem,
E a pálida imagem desfez-se em — neblina!

Fagundes Varela

segunda-feira, outubro 09, 2006

Viva

Naoto Hattori



Queria muito morrer,
Mas vou sentir demais sua falta.
Prefiro viver sem querer,
Deixando minha morte em pauta.




Antes, de ter morrido literalmente por 23 horas, em uma Cirurgia Cardíaca, tendo ficado suspenso no espaço que chamam de EQM, minha Vida tinha uma meta. Meus rumos e direções tinham um plano definido.
Nada saia fora de uma vasta e complicadíssima agenda de compromissos, que começava sempre antes do Sol nascer, e terminava antes que a Lua se fosse.
Depois que me foi devolvida a Vida, continuo com a mesma agenda. Mas agora, pelo simples prazer de ver o Sol nascer, trazendo com ele tudo que um dia ensolarado nos proporciona. Luz, cores, alegrias, chuva, vento, sorrisos, pássaros, flores; e a paz e o silêncio da noite, antes da Lua ir embora.
A vida é absolutamente temperamental, e termina nos guiando por caminhos que não estávamos totalmente convencidos ou entusiasmados a percorrer.
Mas o que seria de nós sem essas surpresas? Levanto um brinde a tudo de absurdo e maravilhoso que seguiremos encontrando a cada passo adiante.

domingo, outubro 08, 2006

A Imagem.


(Foto de José Antunes)





Quando oro a dúbia luz de uma vela,

Não sei se oro à Santa, ou se oro a ela...








sexta-feira, outubro 06, 2006

Crisântemos Rosados de Nagoya


Crisântemos


Sombrios mensageiros das violetas,
De longas e revoltas cabeleiras;
Brancos, sois o casto olhar das virgens
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras.
Vermelhos, gargalhadas triunfantes,
Lábios quentes de sonhos e desejos,
Carícias sensuais d´amor e gozo;
Crisântemos de sangue, vós sois beijos!
Os amarelos riem amarguras,
Os roxos dizem prantos e torturas,
Há-os também cor de fogo, sensuais...
Eu amo os crisântemos misteriosos
Por serem lindos, tristes e mimosos,
Por ser a flor de que tu gostas mais!

Florbela Espanca

Bela, Florbela...




Languidez

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...


Florbela Espanca.