sábado, março 10, 2007

Pecado da Carne

De repente, senti seu perfume do outro lado da rua, e sua imagem povoou minha mente.
Aquele delicioso aroma invadiu todo meu ser. Parei.
O dia estava quente, afrouxei o nó da gravata, e quis continuar a caminhar, mas não pude.
Minha cabeça girava, meu corpo tremia, minha boca cheia de agua, parecia sentir aquele gosto que só ela tem.
Atravessei a rua em meio ao trânsito feito louco, a sua procura.
Não foi difícil encontrar, pois aquele aroma parecia guiar meus passos.
Me deparei com uma porta de vidro, por onde podia ver todo o meu desejo, toda a minha fraqueza e prazer à minha espera.
Lá estava ela; nua e crua, um verdadeiro manjar dos Deuses, fresca macia e inigualável.
Tirei a gravata, abri os primeiro botões da minha camisa, e sem dizer uma só palavra, vi se abrir diante dos meus olhos, aquele Pomo de carne Rosada, com suas bordas ligeiramente escurecidas, e escorrer do seu interior, o suco quente e gostoso. Não resisti; cai de boca.
Quando dei por mim, já tinha comido quase uma Picanha inteira mal passada no espeto, na Churrascaria do Sul.

Sem Sal, é claro...





quinta-feira, março 08, 2007

Errante




Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura…

Meu coração não chega lá decerto…
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto…

Eu tecerei uns sonhos irreais…
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!



Florbela...

Flor



Quem me dera encontrar o verso puro
O verso altivo e forte, estranho e duro
Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela...

Conto de Fadas






Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."

Florbela...

Abandono







Quando à noite
Retorno ao meu lar abandonado
Onde vivo
Sem ninguém

Relembrando
Os momentos felizes do passado
Sinto falta de alguém
Que foi meu grande amor

Em meu quarto ansiosa de beijos
Amargando os meus desejos
Veio a noite
Caminhar

Vem, amor,
Que é fria a madrugada
E eu não sou mais nada
Sem teu calor

segunda-feira, março 05, 2007

Escultura




Cansado de tanto amar
Eu quis um dia criar
Na minha imaginação
Um mulher diferente
De olhar e voz envolvente
Que atingisse a perfeição
Comecei a esculturar
No meu sonho singular
Essa mulher fantasia
Dei-lhe a voz de Dulcinéia
A malícia de Frinéia
E a pureza de Maria
Em Gioconda fui buscar
O sorriso e o olhar
Em Du Barry o glamour
E para maior beleza
Dei-lhe o porte de nobreza
De madame Pompadour
E assim de retalho em retalho
Terminei o meu trabalho
O meu sonho de escultor
E quando cheguei ao fim
Tinha diante de mim
Você, só você meu amor.